Pão de Fermentação Natural: O Guia Definitivo pra Fazer em Casa (Sem Surtar!)

Aprenda a fazer pão de fermentação natural em casa com este guia completo, cheio de dicas e sem complicações.

Pão de Fermentação Natural: O Guia Definitivo pra Fazer em Casa (Sem Surtar!)

E aí, gente! Prontos pra colocar a mão na massa de verdade?

Sabe aquele cheirinho de pão quentinho saindo do forno, que parece que abraça a gente por dentro? Pois é, hoje o papo é sobre isso, mas não é qualquer pão, não. É sobre a estrela do momento, o queridinho das padarias artesanais e o terror de quem tá começando na cozinha: o famoso pão de fermentação natural. Ou, como os íntimos chamam, o pão de levain.

Eu sei, eu sei. Só de ouvir esse nome, muita gente já arrepia. "Ah, mas isso é muito difícil", "Precisa ter um bicho de estimação de farinha?", "Meu Deus, eu vou matar o coitado do fermento!". Calma, respira fundo e vem comigo que eu vou te provar que fazer pão de fermentação natural em casa não é esse bicho de sete cabeças. É mais um exercício de paciência e carinho do que de técnica de chef de cozinha. Pensa que você vai ter um novo hobby, uma terapia e, de quebra, o pão mais delicioso que você já comeu na vida, feito por você!

Eu mesma, quando comecei, passei cada perrengue... Já afoguei fermento, já assei pão que mais parecia um tijolo (sério, dava pra calçar a porta), já chorei de raiva olhando pra uma massa que se recusava a crescer. Mas, como boa brasileira, não desisti nunca. E hoje, vim contar todos os pulos do gato, os atalhos e os segredos que aprendi na base da tentativa e erro. Então, bora desmistificar esse pãozão rústico e delicioso juntos?

Primeiro de tudo: o que raios é esse tal de Levain?

Vamos começar pelo começo. O levain, que é o nome chique pra fermento natural, nada mais é do que uma colônia de bichinhos (leveduras e bactérias) que vivem felizes e contentes numa mistura de farinha e água. É isso, sem tirar nem pôr. Esses microorganismos são os responsáveis por fazer o pão crescer e por dar aquele sabor único, meio azedinho, que a gente tanto ama.

Diferente do fermento biológico seco, aquele de pacotinho que a gente compra no mercado, o levain é uma cultura viva. Você precisa alimentar, cuidar, quase dar um nome pra ele. O meu primeiro se chamava Nestor, e o atual é o Zeca. Sim, eu converso com meu fermento, me julguem! Mas é essa relação que torna tudo mais legal. Você tá literalmente cultivando vida pra criar o seu alimento. É ou não é a coisa mais linda?

Além do sabor incrível, o pão de fermentação natural tem outras vantagens. Ele é mais fácil de digerir, porque os bichinhos do levain fazem uma pré-digestão do glúten. Isso significa que mesmo quem tem uma leve sensibilidade a glúten muitas vezes consegue comer esse pão sem passar mal. Ele também dura mais tempo na prateleira, sem mofar, por causa da acidez natural. É só vantagem!

Mão na massa: criando seu próprio "bichinho" do zero

Ok, convencida a ter seu próprio potinho de alegria? Então vamos criar seu levain. Você só vai precisar de duas coisas: farinha de trigo (de preferência integral, porque ela tem mais "comida" pros bichinhos) e água sem cloro (pode ser filtrada ou água da torneira que você deixou descansando por umas horas pro cloro evaporar).

Dia 1: O Nascimento
Num pote de vidro limpinho, misture 50g de farinha integral com 50g de água. Mexe bem até virar uma papinha grossa. Tampe o pote, mas não feche completamente, só pra não entrar bicho. Deixe ele num cantinho da sua cozinha, em temperatura ambiente, e esqueça dele por 24 horas. Pronto, você acabou de dar à luz ao seu levain. Parabéns, mamãe/papai de fermento!

Dia 2 ao Dia 7 (e além): A Alimentação
A partir do segundo dia, começa a rotina de alimentação. Funciona assim: você vai descartar uma parte do seu levain (sim, dói o coração, mas é necessário) e alimentar o que sobrou. A regra geral é a seguinte:

  1. Tire quase tudo do pote, deixando só uma "sujeirinha" no fundo (tipo uma colher de sopa, uns 25g). O resto você joga fora.
  2. Adicione 50g de farinha (agora pode ser a branca mesmo) e 50g de água.
  3. Mexe bem, tampa e deixa lá no cantinho dele.

Faça isso uma vez por dia, sempre no mesmo horário. Nos primeiros dias, talvez nada aconteça. Depois, você vai começar a ver umas bolhinhas, um cheiro meio estranho, meio de iogurte, meio de chulé (risos). É normal! São os bichinhos começando a festa. Lá pelo quinto ou sétimo dia, a mágica acontece: ele vai começar a dobrar de tamanho umas 4 a 6 horas depois de ser alimentado. Quando ele estiver assim, forte e potente, borbulhando de vida, ele tá pronto pro primeiro pão!

Dica de ouro: Se sua casa for muito fria, coloque o potinho dentro do micro-ondas desligado, com a luz acesa. O calorzinho da lâmpada ajuda a acelerar o processo. Se for muito quente, talvez você precise alimentá-lo duas vezes por dia.

Meu levain não cresce! E agora, Doutora?

Calma, não se desespera! É super comum o fermento dar uma empacada. Antes de jogar tudo fora e xingar até a quinta geração da minha família por ter te metido nessa, vamos aos problemas mais comuns:

  • "Não tem bolha nenhuma!" - Paciência, jovem padawan. Às vezes demora um pouco mais. Continue alimentando direitinho que uma hora vai. Verifique se a sua água não tem cloro, isso pode matar os microorganismos.
  • "Juntou uma água escura por cima." - Isso é o "hooch", um álcool que se forma quando o levain tá com fome. É um sinal de que você talvez precise alimentá-lo com mais frequência ou que a temperatura tá muito alta. É só jogar essa aguinha fora, mexer e alimentar normalmente.
  • "Tá com cheiro de removedor de esmalte." - Fome de novo! Ele tá pedindo comida. Alimente o bichinho.

O importante é não desistir. Observe seu fermento, sinta o cheiro, veja a textura. Com o tempo, você vai entender o que ele precisa. É uma relação, lembra?

Agora o bicho pega: A receita do pão que não tem erro!

Seu levain tá bombando, dobrando de tamanho e cheio de bolhas? Então chegou a hora mais esperada! Vou passar uma receita básica, que é a minha de todo dia. As medidas são em gramas, então uma balancinha de cozinha é sua melhor amiga aqui, tá?

Ingredientes:

  • 350g de água
  • 100g de levain ativo (alimentado e no pico do crescimento)
  • 450g de farinha de trigo branca
  • 50g de farinha de trigo integral
  • 10g de sal

O Passo a Passo da Felicidade:

1. Autólise (o descanso da beleza): Numa tigela grande, misture SÓ as farinhas e a água. Mistura com a mão mesmo, só até não ter mais farinha seca. Não precisa sovar. Cubra a tigela e deixe essa massa descansar por uns 30 a 60 minutos. Esse processo se chama autólise e serve pra hidratar a farinha e começar a desenvolver o glúten sem esforço.

2. A Hora do Levain: Passado o tempo, jogue o levain por cima da massa. Com a mão molhada, vá apertando e incorporando o fermento na massa, como se estivesse fazendo uma massagem nela. Faça isso por uns 2 ou 3 minutos, até sentir que tá tudo bem misturado.

3. O Sal, por último!: Deixe a massa descansar mais 30 minutos e aí sim, adicione o sal. O sal entra por último porque ele pode atrapalhar a ação inicial do fermento. Pra incorporar, jogue o sal por cima e borrife um tiquinho de água. Massageie a massa de novo até o sal sumir.

4. As Dobras Mágicas: Agora vem a parte que substitui a sova. A cada 30 ou 45 minutos, você vai fazer uma série de dobras na massa. Com a mão úmida, puxe uma ponta da massa pra cima e dobre até o centro. Gire a tigela e faça isso com os quatro "lados" da massa. Você vai fazer isso umas 4 ou 5 vezes, ao longo de umas 3 ou 4 horas. A cada dobra, você vai sentir a massa ficando mais forte, mais elástica e mais lisinha. Essa é a primeira fermentação, ou "bulk fermentation".

5. Modelagem e Segunda Fermentação: Quando a massa estiver cheia de bolhas e com uns 30% a 50% de aumento de volume, tá na hora de modelar. Jogue a massa numa bancada com um pouquinho de farinha, modele no formato que você quiser (uma bola ou mais alongado) e coloque num cesto de pão (ou numa tigela com um pano de prato enfarinhado) com a "costura" da massa pra cima. Cubra e leve pra geladeira. Sim, pra geladeira! Ela vai passar a noite lá, de 8 a 12 horas, fermentando lentamente. Isso se chama fermentação a frio e é o que desenvolve aquele sabor complexo do pão.

6. Assando a Obra de Arte: Dia seguinte! Pré-aqueça seu forno no MÁXIMO (uns 250°C) com uma panela de ferro com tampa dentro, por pelo menos 45 minutos. A panela pelando de quente é o segredo pra casca ficar crocante! Quando o forno e a panela estiverem tinindo, tire a massa da geladeira, vire ela num pedaço de papel manteiga, faça um corte na superfície com uma lâmina ou faca bem afiada (o famoso "pestana", pra ele ter por onde crescer) e, com muito cuidado, coloque o pão com o papel e tudo dentro da panela quente. Tampe e leve ao forno. Asse por 20 minutos com a tampa. Depois, tire a tampa e asse por mais 20-25 minutos, ou até ele ficar bem douradão.

Tire do forno e... resista à tentação! Deixe o pão esfriar completamente numa gradinha por pelo menos 1 hora antes de cortar. Eu sei que é tortura, mas se você cortar ele quente, o miolo pode ficar borrachudo. Confia na tia!

E agora, umas dicas pra vida

  • Não tenha pressa: Fazer pão de fermentação natural é sobre observar e esperar. Os tempos que eu dei são uma base. Você precisa aprender a "ler" a sua massa.
  • A panela de ferro faz toda a diferença: Ela cria um ambiente de vapor que ajuda o pão a saltar no forno e criar aquela casca perfeita. Se não tiver, uma panela de cerâmica ou inox grossa que possa ir ao forno com tampa também funciona.
  • Varie as farinhas: Depois que pegar o jeito, comece a brincar! Adicione um pouco de farinha de centeio, de espelta, sementes, grãos... O céu é o limite!

Ufa! Falei pra caramba, né? Mas eu juro que é mais fácil fazer do que explicar. O processo vira um ritual, um momento seu na cozinha. E a recompensa de tirar do forno um pão lindo, cascudo, com um miolo cheio de alvéolos e um cheiro que perfuma a casa inteira... ah, isso não tem preço.

E aí, se animou a começar sua própria padaria caseira? Espero que sim! E quero saber de tudo, viu? Se você já fez, me conta como foi sua experiência! Se vai começar agora, pode me chamar aqui nos comentários que eu ajudo a tirar as dúvidas. Vamos encher esse Brasil de pães caseiros maravilhosos!

Beijo e boa fornada!

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